sábado, 14 de agosto de 2010

Selvagem


Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a casa dele, e é.

Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela -apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura porque primeira de quem não tem medo,come às vezes na minha mão,deixa eu o alisar,e as vezes ele vem para perto de mim. Seu focinho é úmido e fresco.eu o beijo no seu focinho,pois as vezes eu sinto que me identifico com ele.Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito,a menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é.E que ao mesmo tempo seja selvagem e suave.Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome.ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai.Se ele fareja e sente um corpo-casa, e é livre, ele trota sem ruídos e ai ele se adona desse corpo.Aviso tambem que nao se deve temer seu relinchar:a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera,a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez.Mas quando menos percebemos ele ja esta dentro de nos.E logo nos acostumamos com ele,porque ele é selvagem como o corpo-casa e doçe o que nos faz viver só com mais intensidade ainda a vida.

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